HOSPITAL PEDIÁTRICO DE COIMBRA
Há muito que não escrevo
Dizem que só escreve quem está infeliz
Deve ser verdade
Estou num mar negro de infelicidade
E nado, tenho de nadar e chegar a terra
Estou a ver a margem lá longe
Mas ela está lá
Por isso vou nadar e passar as vagas
A rebentação é tensa
Mas eu hei-de chegar a terra
E depois descansarei na areia
Mesmo que o mar me banhe os pés
Os meus braços não se cansarão
Estou certa disso e vou
Levar o meu filho até à margem
Ele correrá pela areia
Tenho de conseguir
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Que o vento me seja favorável
E que a coragem me sirva de vela
Nadarei, nadarei
A margem é já ali e eu vou chegar
Lá e porei o meu filho
A correr em terra firme
Nado, nadarei
Lígia Costa Martins
Hospital Pediátrico de Coimbra, Julho de 2004
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