domingo, 25 de setembro de 2011

Um texto do Sr. Prof. Alexandre Linhares Furtado

A propósito de uma opinião médica

Dimensão da Experiência Cirúrgica e Resultados

Recentemente, vi escrita a seguinte afirmação: ”Não faz sentido um doente ser operado a uma patologia complexa do fígado por equipas cirúrgicas que fazem - e vou ser muito benevolente -10 ou 12 dessas cirurgias por ano”. Quem a fez tem tido importantes responsabilidades médicas e confessa grandes potencialidades de influência em decisões na Saúde.

A opinião não é inteiramente verdadeira, não foi seriamente fundamentada nem explicada, dirigia-se a um público não médico e o número referido coincide com o que se refere à transplantação pediátrica em Portugal (11 por ano), que só se pratica em Coimbra e desde 1994.

Não havendo, no país e em média por ano, mais que 10 a 12 crianças candidatas a transplante de fígado, parece inevitável concluir-se que, se a opinião citada fosse sempre verdadeira, nenhuma equipa portuguesa deveria realizar ou ter realizado tais transplantes, sob pena de incorrer em grave falta ética! Ou seja, se um governo se orientasse por aquela afirmação, teria de proibir a prática dos transplantes hepáticos pediátricos no país, do que teria resultado a morte de muitas crianças !!!

Vejamos, resumidamente, alguns factos, que o opinante tem obrigação de conhecer muito bem:

1º no país, o transplante pediátrico de fígado iniciou-se em 15 de Janeiro de 1994 , nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) que foi sempre o único centro a praticá-lo, por consenso nacional.

2º desde aquela data, realizaram-se em Portugal, em devotada cooperação entre os HUC e o Hospital Pediátrico de Coimbra, 189 transplantes em crianças, dos quais 23 com enxerto de dador vivo.

3º os transplantes com dador vivo não chegam a 3 por ano, isto é, menos de 1/4 do número “mágico” benevolamente estipulado pelo autor da afirmação.

4º creio que a colheita de fígado em dador vivo é o procedimento com mais alta responsabilidade técnica e ética solicitável a um cirurgião.

5º nos 25 casos efectuados nos HUC, em 10 anos, não houve uma única complicação grave e essa cirurgia não foi levada a cabo por qualquer outra equipa nacional.

6º a sobrevida real nos transplantados hepáticos pediátricos, aos 10 anos (crianças transplantadas há 10 ou mais anos) é de 85,8%, inteiramente sobreponível à de um dos melhores, se não o melhor centro europeu de transplantes pediátricos (St Luc, Bruxelas) e ligeiramente superior à de importante grupo americano (UNOS) .

Comentários: A sobrevida dos doentes foi o único parâmetro considerado pelo autor daquela afirmação, para justificá-la. Com efeito, as sobrevidas a vários prazos, são, isoladamente, o dado mais importante para avaliar a segurança duma prática daquela grandeza.

Os dados existentes obrigam a considerar, objectiva e indubitavelmente, que:

1º- a segurança com que as crianças têm sido transplantadas ao fígado, em Coimbra, é igual às dos melhores centros estrangeiros. Esta realidade foi precocemente reconhecida em alguns desses centros, que reenviaram doentes erradamente aconselhados a irem transplantar-se fora do país.

2º- as casuísticas pequenas são compatíveis com resultados tão bons ou mesmo melhores que os das experiências com grande volume de casos.

3º- não há razões técnicas médicas, minimamente sérias, para enviar crianças (ou adultos) para centros estrangeiros,em tudo o que se refere a transplantes de órgãos abdominais, incluindo os de fígado, mesmo com dador vivo (único centro, HUC, desde 2000).

4º- em minha opinião, a interrupção dos transplantes hepáticos nas crianças no país é lamentável, teve, como causas fundamentais, gravíssimos erros administrativos, mas pode ser corrigida.

Coimbra, 22/09/2011

A.J. Linhares Furtado

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Precisa-se que mudem de discurso! Mas todos, especialmente as televisões e os jornais!

Portugal e o mundo estão mergulhados numa crise artificial e ninguém parece querer ver…
Reparem, imaginem que Portugal está doente deitado numa cama de um hospital a recuperar de uma pneumonia. A receita da TROIKA é, cortar a alimentação para metade, cortar um pedaço no soro, o antibiótico que deveria ser tomado de 6 em 6 horas passa para de 12 em 12, o anti-inflamatório passa a ser só em caso de dores, tiram-lhe metade do pijama e o lençol debaixo e ficam á espera que o país recupere e tenha força anímica para o fazer!!

Contudo o governo olha para o “seu doente” e diz, ena tanto soro!!? Isto deve ser reduzido a metade e cama, para quê uma cama, o doente pode estar sentado numa cadeira de plástico que assim arranja-se mais espaço e deixa de ser necessário mudar a roupa!!?? Temos de nos antecipar a um buraco que há-de surgir na Madeira e ir mais além do que a TROIKA!

O desgraçado do doente, sentado no seu canto, lá vai tentando aguentar-se, e realmente a comida já não lhe faz muita falta porque ele vai perdendo o apetite, vai definhando, mas caramba, assim dificilmente conseguirá recuperar!

Reparem nesta notícia que saiu hoje do DE:

Esta notícia em situação normal, calaria qualquer agência de rating, ou qualquer ‘guru da economia’, pois agora existem muitos!!

Cento e vinte e seis mil, novecentos e dezasseis milhões de euros que foram depositados nos bancos portugueses! Nas seguradoras passa-se precisamente o mesmo, nunca tanto dinheiro foi colocado em poupanças.

Estamos em plena crise, mas não podemos vender nenhum ouro porque como temos uma das maiores reservas do mundo, isso irá afectar o valor da onça e os EUA e a própria Europa não o querem, por outro lado, sem contar com os depósitos nas seguradoras, só aquilo que foi depositado nos bancos, é suficiente para pagar ao FMI (se eles já tivessem transferido todas as tranches, coisa que não foi feita, pois como se sabe serão transferidas ás pinguinhas e sob forte vigilância da tal TROIKA)!

Mas como é isto possível!

Mais valia o Governo português ter feito uma emissão de dívida para os portugueses, apelava-se ao patriotismo de todos e emprestávamos esse dinheiro. Precisam de 78.000 milhões então tomem lá 126.000 milhões, mas portem-se bem!!??!!

Naturalmente que teríamos um país bem mais feliz, as crianças continuariam a ser transplantadas de forma programada e todos os outros doentes não estariam em pânico com o medo do que para aí vem!!

Jornal Destak - Blog da Sandra

http://transplantes-pulmonares.blogspot.com/2011/09/espera-de-uma-dadiva-de-vida.html

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Resposta aos comentários do Post anterior.

Na ânsia de alertar o país para o que se passa, fui demasiado amargo e cruel!
Reparem, o país está adormecido e ninguém parece reagir!

Com um discurso, moderado e prudente não tenho conseguido nada. Desta vez tentei atingir as consciências, precisamente em defesa de casos como o vosso, mas esqueci-me que a leitura das minhas palavras por quem está a viver neste momento o drama, é demasiado doloroso.
De coração, peço-vos desculpa pelo meu acto irreflectido.
Neste momento o programa está suspenso e temos de lutar pela sua recuperação! Sinceramente, a solução preconizada pela Administração dos HUC, de formar agora Cirurgiões e tentar retomar tudo mais rápido possível, é inviável, pelo menos no curto prazo, isto é, nos próximos dois / três anos! Se ouvirmos quem percebe de transplantes, constatamos isso imediatamente, pois a “qualidade” aqui é uma variável inegociável….

Nenhum cirurgião de bom-senso, a dar os primeiros passos na área pediátrica, arrisca a fazer o transplante, assim sem mais nem menos!

E é preciso que as equipas estejam todas a postos e afinadas e neste momento não estão. Esta é a realidade!

Por outro lado temos um país que só está atento a números, a buracos financeiros e neste momento não há vontade política para nos escutarem… ou parece não haver!

A solução é simples, curiosamente. O que está em causa é o superior interesse nacional, note-se!!
Hoje enviei um mail a determinada entidade que acabava assim:
“Como seguramente concordarão comigo, tudo isto é assustador, está a acontecer no nosso país e ninguém parece querer ver!! Antes as crianças eram enviadas para Coimbra e tudo se passava entre os dois hospitais (HUC e Pediátrico) a taxa de sucesso era superior a 90%. Em Coimbra temos um dos melhores cirurgiões do mundo, mas como o programa está suspenso, não pode fazer transplantes e temos uma equipa de médicos que têm de assegurar os transplantes hepáticos e não sabem fazer transplantes pediátricos!! Em Coimbra temos tudo "à mão” os pais são acompanhados por pessoas que falam a N/ língua e podem viver gratuitamente em Coimbra, num apartamento que está arrendado à Hepaturix! Em Madrid andam perdidos e têm de suportar uma imensidão de despesas…

Outra coisa inquietante é que agora o HP tem de devolver esses casos aos Hospitais de origem, ou seja tememos que muitas dessas situações deixem de ser do domínio público o que poderia ter consequências graves, pois com o programa a funcionar na sua plenitude, já era frequente que as crianças que dessem entrada em hospitais de província corressem perigo de vida de não chegarem a tempo, agora, poderemos nem sequer chegar a saber do caso….”

Como dizia, mais atrás, está em causa o superior interesse nacional e já agora, uma solução mais económica para o país, e a solução é simplesmente dar condições ao Dr. Emanuel Furtado para chefiar os Transplantes Hepáticos e dessa forma retomar os Tr. Pediátricos.

É tão SIMPLES!
Todos os pais devem fazer-se ouvir e não estar à espera da Hepaturix, porque a Hepaturix é composta por pais que têm as mesmas dificuldades e limitações que todos os outros. Não é uma organização com uma máquina montada, isto é, depende da carolice de alguns pais e neste momento todos somos poucos.

Quando travámos a luta contra a alteração dos medicamentos pela farmácia do pediátrico, já passámos por esta “solidão” mas conseguimos vencer e levar o nosso barco a bom-porto e é isto que temos de fazer novamente, mas COM A AJUDA DE TODOS!

Mais uma vez peço desculpa por vos ter chocado e vamos todos lutar pelos V/ filhos, pois NINGUÉM tem o direito de vos fazer passar este calvário.

Eu tenho sido o primeiro e não vou desistir, porque tenho lá em casa um menino espectacular e nos seus olhos vejo todos os outros, acreditem!

sábado, 17 de setembro de 2011

Eu bem avisei!

Hoje deu-me para ler o meu livro!

É incrível ter sido eu a escrevê-lo e agora ao lê-lo, quase parece que não fui eu que o fiz! Emociono-me como todos os leitores e reparo na infeliz premonição subjacente à sua criação! O programa de transplantação hepático morreu! Morreu mesmo!
Tentei divulgar o programa de transplantação hepático pediátrico, porque, pensei eu, fazendo-o mostraria a Portugal algo que estava nessa altura a passar um 'mau bocado' e que era urgente defender! Fui às três televisões, dei entrevistas às várias rádios, apareci em todos os jornais diários, expus publicamente o meu filho Vitor Alexandre, a Lígia, a Inês e a Patrícia.
Corri Portugal de um lado para o outro, às vezes apenas para estar em eventos com 3 ou 4 pessoas. Fui a todo o lado, nunca mostrei indisponibilidade para quem me convidava, conheci muitas pessoas, o livro chegou a vários países e quase sempre, fui eu próprio que o enviei para quem desesperadamente o queria ler, conseguir alguma informação e algum alento!

Enviei o livro para dezenas de personalidades esperando que dessa forma se despertasse consciências e algum dia, um desses livros ‘germinasse’ de alguma forma e provocasse uma ‘bola de neve’ imparável que indirectamente tornasse o programa de transplantação hepático pediátrico sólido e indestrutível!

Eu bem avisei e dizia eu no programa da Fátima Lopes, é preciso muito pouco, nós temos tudo, basta investir nas pessoas! Apesar de temer o seu fim, para ser franco, nunca acreditei que tal viesse a suceder e invariavelmente lembro-me das palavras do Prof. Linhares Furtado na FNAC em Coimbra, quando disse com grande confiança, “o programa de transplantação hepática pediátrica, NUNCA morrerá”!

.......... Desculpem, mas cortei a parte final do meu comentário, pelas razões indicadas no Blog............

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Do Blog da Sandra ...

HEPATURIX quer ajudar os meninos que precisam de transplante em Portugal ... Lê e junta-te e ajuda!

Queridos Amigos,

Esta foi a carta mais bonita e comovente que vi escrita por este pai que representa a Associaçao Hepaturix.

Por favor vejam com atençao e ajudem a tornar este projecto uma realidade num país onde os responsáveis nao tomam uma atitude para melhorar o panorama actual da Transplantaçao em Portugal.

Gostava que outras Associaçoes tomassem a mesma iniciativa - APFQ, ANFQ, RARSSÍMAS, etc, etc

Sandra Campos

 (a minha) CARTA

Vou iniciar uma recolha de fundos, pois o dinheiro vai dar-vos poder e só desta forma poderemos continuar a ter uma palavra audível!!

Parece que está tudo maluco e já não acredito em nada!

É quase uma loucura, mas estou determinado…. Vou armar-me em D.Quixote e lutar contra os moinhos e vamos ver em que é que isto dá!!

Portugal não se pode demitir desta responsabilidade, o dinheiro vai ajudar a resolver alguns casos, mas a solução não passará só por aqui!!

15 crianças aguardam transplante hepático e eu não consigo conviver com isto, nem com as nuvens escuras que se aproximam!!

Já passei por este pesadelo e por este desespero, e nem quero pensar no estado em que se encontram os pais que lêem o meu livro e percebem que agora já não existe a mesma solução!!

Estou e estarei incondicionalmente grato à Dra. Isabel Gonçalves, ao Dr. Emanuel Furtado e a todos os outros e por isso não posso desistir de lutar pelos transplantes pediátricos

O meu escritório de seguros, é um pequeno escritório que me permite uma vida pacata. Em termos materiais tenho (temos!) o suficiente e por isso a partir desta data vou direccionar toda a minha actividade apenas para gerar fundos para a HEPATURIX.

A totalidade do lucro será para a Associação que em conjunto com a Hepatologia do Pediátrico decidirão como o aplicar. Se o actual estado de coisas se mantiver, será para suportar transplantes no estrangeiro, sem que seja necessário aguardar pelos “SOS”!

Não podemos esperar mais pelo Estado! É verdade que o Estado não se pode demitir das suas funções e tem de arranjar soluções, mas se nós tivermos dinheiro e forma de mostrar força, as coisas serão muito diferentes. Eu já não vou a tempo de ajudar estas crianças que aguardam o TRH, estas tem de ser o Estado, mas nós temos de começar a mexer por causa do que o futuro nos reservará!

Vou contactar as empresas necessárias para tornar este sonho realidade e convidá-las a integrar um projecto que será fiscalizado pelas próprias.

Não é justo estar a pedir donativos para isto e para aquilo, pois tudo se torna efémero! Por isso, só criando uma dinâmica permanente e sólida será possível resolver este problema para sempre.

O que pretendo exactamente, é isto:

- direccionar toda a actividade do meu escritório para a captação de uma boa carteira de seguros e desta forma gerar receitas para a Hepaturix;

- a totalidade do lucro será para a Hepaturix e essa afectação será fiscalizada pelas próprias empresas que nos colocarem os seus seguros;

- a utilização dessas verbas será da exclusiva responsabilidade da Hepatologia do Hospital Pediátrico em sintonia com a Direcção da Hepaturix, da qual NUNCA farei parte.

Eu, os meus funcionários seremos quem assegurará a gestão dessas carteiras, garantindo um serviço pautado por padrões de elevada qualidade e tentando reduzir os custos dos nossos clientes!

Os nossos clientes, mais que clientes, serão nossos parceiros e desta “união” se construirá um projecto que irá salvar vidas.

No final de cada exercício será feita um apuro do que cada empresa contribuiu e que será tornado público (se a empresa concordar, naturalmente!), a Hepaturix divulgará tudo o que se fez pois enquanto IPSS terá mesmo a obrigação de o fazer.

A visibilidade deste n/ projecto será a melhor forma de torná-lo cada vez maior e mais sólido.

Todas as empresas que a ele ficarem associadas, ficarão ligadas a algo fantástico sem com isso aumentarem as suas despesas e sem desviar as habituais contribuições para outras actividades de responsabilidade social!

A montante destes problemas tentarei resolver o problema dos seguros de responsabilidade civil dos cirurgiões e dos hospitais, algo que está esquecido e que ninguém resolve, mas que a lei obriga a que se encontre uma solução.

O meu alvo serão as nossas melhores empresas, as empresas amigas, os nossos amigos, os Hospitais, a Ordem dos Médicos, enfim todos aqueles que se possam identificar com a N/ causa.

Todos os Associados poderão contribuir direccionando pessoas e empresas para nós. O N/ site poderá também divulgar esta iniciativa.

Acreditem que se conseguirmos gerar fundos importantes tudo mudará.

Não podemos baixar os braços!

Caramba, temos de lutar com toda a força e o que é isto comparado com a luta que as crianças travam no bloco operatório?

Vitor Raimundo Martins Agente Principal - Tlm: 96 421 5245


E COMO PODEMOS AJUDAR?

O primeiro objectivo é desligar a captação de receitas da lógica dos donativos. No fundo as empresas e os particulares não gastarão um cêntimo, isto é, fazendo os seguros no meu escritório, pagam o que pagariam noutro lado qualquer e nós canalizamos as receitas para a Hepaturix. A internet é um meio fantástico que nos permite fazer os seguros de qualquer entidade, em qualquer parte do país.

Cada seguro feito tem as suas formas próprias de pagamento sendo a mais usual através do MB. No final restará que sem qualquer sacrifício a tal entidade ajudou a Hepaturix.

No final de cada ano divulgaremos quem nos ajudou, etc, etc.

Se a coisa der certo, vai dar-nos algum poder, espero!

Agora é só divulgar os N/ contactos e começar a trabalhar!!

Sandra:
Conseguiu deixar-me sem palavras...
Obrigado!
 
Os contactos do meu escritórios são:
vitorraimundomartins@sapo.pt
964215245
256575225
256583850 (Fax)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Diário Coimbra - a carta!

Exmº Senhor Dr. Paulo Macedo Ministro da Saúde,

Coimbra tem o único Centro de Transplantação Hepática Pediátrica português (continente e ilhas) nos Hospitais da Universidade de Coimbra – Hospital Pediátrico.

No final de Janeiro foi suspenso o programa de Transplantação Hepática Pediátrica (THP) por não se reunirem as condições necessárias. O único cirurgião que domina a técnica necessária ao transplante hepático pediátrico foi para o IPO e ficámos reduzidos aos transplantes no país apenas nos casos emergentes, todos os outros passaram a ser encaminhados para o estrangeiro.

As crianças sujeitas a transplantes no estrangeiro, ou têm um dos pais com um órgão compatível para serem dadores vivos ou ficam à espera (no fim da lista dos naturais do país em causa).

Há neste momento um menino nestas condições. Já foi para Espanha, e regressou para Portugal à espera que haja um órgão para o transplante.

Portugal poderá enviar um fígado compatível (que terá de ser um fígado inteiro, embora só seja necessária uma parte, podendo a outra salvar mais um doente, porque por cá não se deu apoio ao único cirurgião que sabe fazer a bipartição, necessária a este processo). Conclui-se, portanto, que não há solução razoável.

O programa Pediátrico está suspenso, mas poderia funcionar se ao Dr. Emanuel Furtado tivessem sido dadas condições nos HUC e os transplantes dos ADULTOS beneficiariam desse facto, pois, temos em Coimbra um dos melhores cirurgiões do mundo na área da transplantação hepática, pediátricos e adultos, e o único em Portugal que faz a bipartição do órgão, mas não faz transplantes! (Chama-se a isto desperdício de recursos).
Agora, pergunta-nos o Sr. Ministro "é preciso perceber se o país pode sustentar o actual número de transplantes"? E nós questionamos: Qual o peso económico para Portugal quando uma criança é enviada para fazer um transplante no estrangeiro? Que consideração e respeito temos nós pela qualidade que alcançámos em Portugal nesta área e estamos à beira de não a aproveitarmos? É imperativo resolver este assunto com os recursos nacionais.

Há normas internacionais que definem os parâmetros dos indivíduos candidatos a transplantes de órgãos. Quem tem o poder de decidir a vida ou morte para além destes parâmetros?!? A economia??
Esta Associação tem como associados os pais das inúmeras crianças com transplante hepático feito no nosso país, algumas que já cresceram e são adultas e destas por sua vez já com filhos. Não podemos aceitar que se deite por terra quase duas décadas de THP, e outras tantas de investigação, empenho, sofrimento de tantos, para que a THP tivesse chegado ao nível de reconhecimento internacional a que chegou, nem que se extinga um Serviço único e importantíssimo para as centenas de crianças e famílias que a ele têm recorrido nos últimos 17 anos.
Dizer que pretende “manter um número de transplantes tão interessante e de qualidade como tem vindo a ser feito, mas claramente dando menos incentivos aos hospitais, porque também não é necessário”, e não permitir a formação de equipas e a sua preparação é pura sabotagem. Ainda estamos a tempo de não cometer um crime no que à THP diz respeito.
Transplantar uma criança, é, na maioria dos casos, torná-la saudável, ou seja (se quisermos reduzir o valor da vida humana a números) gerar um trabalhador e consequentemente um contribuinte.

Há crianças em lista de espera de THP que sofrem todos os dias. Quem tem coragem de, em nome da economia, decidir quais as que não devem ser transplantadas? E estará Sr. Ministro, em consciência, disposto a assumir essa responsabilidade? Que justificação pode dar a uma mãe com um filho doente, cuja única hipótese de vida é o transplante, mas que por questões económicas nada pode ser feito?

A próxima criança pode ser alguém que lhe seja próximo. Irá ao estrangeiro doar-lhe parte do seu fígado? E se o seu fígado não for compatível? Regressará e aguardará serenamente que alguém decida se ela será ou não transplantada, ou seja, que alguém decida se ela viverá ou não?

Felizmente que em Portugal, depois destes 17 anos de TRH pediátricos, poucos foram os insucessos, mas algumas crianças faleceram e o país chora sempre que perde uma das suas crianças! Cada uma que faleceu significou uma derrota e uma dor insuportável para todos nós, incluindo para os profissionais de saúde que a acompanharam na luta pela vida! Uma só vida perdida, equivale a um desgosto infinito, a um vazio profundo e a uma frustração imensa!

Não queira o Sr. Ministro ficar com um peso destes na consciência!

A Direcção da Hepaturix

Diário Coimbra - Amanhã

sábado, 3 de setembro de 2011

Provocando o Sr. Ministro!

Pergunta-nos o Sr. Ministro "é preciso perceber se o país pode sustentar o actual número de transplantes"?

Por outras palavras, pergunta-se, será que vale a pena salvar algumas vidas? E obviamente procura-se direccionar quem ouve para uma resposta negativa, ou numa visão mais optimista, para "um talvez não valha a pena salvar todas..."!

Declarações de Paulo Mendo à RR

O antigo ministro da Saúde social-democrata condena, em declarações à Renascença, a forma como o Executivo se prepara para cortar a despesa no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"É contra aquilo que a nossa consciência profissional, a minha consciência de médico, não pode aceitar. Isto obriga a uma visão política extremamente cuidadosa e dá-me a impressão que a política de Saúde e, de um modo geral, a política no país desapareceu e estamos numa era em que o que manda é a administração, é a contabilidade, e isso na Saúde e na Educação é uma desgraça futura", adverte.
Paulo Mendo diz não haver sensibilidade social na acção do actual ministro da Saúde, Paulo Macedo.
"Não tenho dúvida nenhuma que não se pode tirar à Saúde mil milhões de euros e dizer que a Saúde não fica prejudicada", sustenta.
Sobre as declarações do ministro Paulo Macedo anunciando a redução de incentivos à realização de transplantes nos hospitais nacionais, Paulo Mendo diz ser uma "afirmação de quem não é político de Saúde".
"Não pensa em política de Saúde, os seus objectivos nacionais e muito importantes, mas que podem ser destruidores da Saúde. Eu gostava que o Governo pensasse melhor a globalidade das políticas sociais que tem que fazer", apela Paulo Mendo
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Meus caros!
Temos uma guerra a começar! Este governo admitiu publicamente que concorda com a morte de pessoas para se poupar uns tostões que ao que parece, nem sequer serão poupados pois o transplante não é necessáriamente uma solução mais cara!

Se nós virmos uma pessoa a afogar-se, o nosso instinto natural leva-nos a tentar salvá-la. Neste momento estamos todos a ver milhares de anónimos 'a afogarem-se' e por isso precisamos de agir!

Temos de nos indignar e temos de mostrar a N/ indignação!

O país está anestesiado e não reage!! Necessitamos e reagir!! Apelo à HEPATURIX, aos pais, a todos os transplantados em geral que se juntem a nós, pois temos uma guerra para travar e que agora começa. Necessitamos mesmo de todos, incluindo Ordem dos Médicos, Médicos, Enfermeiros, Técnicos de Saúde, Administradores Hospitalares, etc, etc..

Como disse logo imediatamente em reacção á entrevista do Sr. Ministro, estou incrédulo, indignado e revoltado!

Portugal tem de reagir!

Direcção da ASST demite-se. Isto está a complicar-se!!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O preço da vida

Quanto vale uma vida humana?

O Prof. Ernani Lopes que conheci na U. Católica, como todos sabem, morreu recentemente. Era um prestigiado economista e nunca desistiu de lutar pela vida. Muito pouco tempo antes de morrer ainda aparecia na TV, visivelmente enfraquecido e o mesmo se diga da Dra. Maria José Nogueira Pinto, mais conhecida pelas suas qualidades politicas.

Se Deus permitisse, gostaria de lhes perguntar o seguinte, quanto vale uma vida humana? Qual o preço? Se houvesse um medicamento milagroso que custasse vários milhões e que os pudesse salvar, seria legitimo defender a sua compra pelo Estado Português?!

Seria chocante que, se existisse o tal medicamento, a compra do mesmo fosse vedada por razões economicistas!! O Prof. Ernani Lopes conhecido pelos seus rigor e competência, certamente que perceberia que neste caso concreto, invocar-se razões económicas para impedir a compra do medicamento, seria um absurdo e moralmente inaceitável! A Dra. Maria José Nogueira Pinto defenderia esta causa com todo o fervor e nunca cederia às pressões ditas económicas!!

Quem está perto da morte sabe o que quero dizer e por isso escrevi no meu livro:

“Quem passa por uma experiência como a nossa sabe qual é o valor relativo das coisas. Se nos faltar o dinheiro, se nos faltarem os bens materiais, temo-nos pelo menos a nós próprios, temos os nossos sentimentos, os nossos amores, os nossos tesouros, que são as nossas vidas e as vidas dos nossos filhos. Unidos, podemos viver de muito pouco e então, se olharmos para os pobres verdadeiramente pobres dos arredores de Mumbai, ou daquelas aldeolas fora dos roteiros turísticos que descem o Nilo entre Assuão e Luxor no Egipto, então percebemos, que o nosso patamar mais baixo, é inalcançável para toda essa pobre gente. Temos realmente de nos dar por muito felizes por termos nascido em Portugal.
Por tudo isto digo e repito que qualquer buraco orçamental é bem-vindo se a sua razão for a nossa saúde! As nossas vidas não têm preço, logo temos de gastar para as salvar tudo o que temos e tudo o que não temos! Tudo é correcto se o dinheiro for bem gasto e se as gestões hospitalares forem competentes!”

Contudo hoje fiquei em estado de choque porque ouvi atentamente o Sr. Ministro e quando chegou a parte da redução dos incentivos aos transplantes ele justificou desta forma, é que os incentivos existiam para fomentar os transplantes e dado Portugal ter atingido um lugar de topo, já não é necessário incentivar mais!!? (não foram estas as palavras, mas foi esta a ideia transmitida)
Será que percebi bem? Então porque somos dos melhores a colher órgãos e dos melhores a transplantar, já não é preciso incentivar mais? Mas estamos a falar de quê, da produção de batatas?

Vamos ver em que é que isto dá, mas hoje fiquei a saber que uma vida humana vale muito menos do que eu pensava! Passou a ser lícito contrabalançar entre um beneficio para a saúde de alguém e um beneficio para a saúde das finanças!

Na altura em que o Alex foi transplantado, era lícito mover montanhas para se conseguir fazer um transplante e dessa forma salvar uma vida, podia-se mandar vir um médico que estivesse em férias num país estrangeiro, podia-se requisitar um avião para levar uma criança a Bruxelas, podia-se gastar ‘mundos e fundos’ para se ir buscar um órgão á Madeira e aos Açores…

Parece que a partir de agora será mais lógico … deixar morrer a criança!!
Razões economicistas, dizem eles!!!

Que a Dra. Nogueira Pinto e o Prof. Ernani Lopes lá em cima, velem por nós, que contrariamente ao que digo no livro, estou a começar a perder o orgulho de ser português!

Onde pára a obra do Prof. Linhares Furtado?

Ibiza 2011

Já estou com saudades!