A propósito de um apelo particular que está a circular na internet / facebook com o pedido de doação de parte de fígado para uma
criança, à semelhança de muitos outros que todos nós vamos
recebendo, entendeu a Hepaturix ( Associação Nacional
das Crianças e Jovens Transplantados ou com
Doenças Hepáticas) ser pertinente chamar à atenção que não é útil para a criança este pedido. Pode mesmo prejudicar o trabalho das instituições hospitalares envolvidas no processo de doação / transplantação. Sabemos
que são gestos de generosidade, mas levantam grandes questões, de índole técnica e ética.
Gera-se uma onda de solidariedade que faz afluir aos serviços de transplantação um grande
movimento, que em nada beneficia o bom funcionamento destes. A lei portuguesa
permite a doação de órgãos de pessoas sem relação de sangue,
no entanto, há considerações que devem ser tidas em conta. Para que um dador possa fazer a doação de um órgão em vida há diversos estudos que têm de ser
feitos, estudos médicos, mas também preceitos legais a serem cumpridos. Além disso, levanta questões de ética, relacionadas com o facto de o dador correr risco
significativo de sequelas com impacto na sua vida, e risco real de morte.
Quando se fala de um apelo para doação de um órgão, normalmente são situações emergentes e estas condicionantes
não são compatíveis com o pouco tempo disponível para
executar o transplante.
Desta forma, o efeito do apelo é contrário ao pretendido. Sobrecarrega-se um serviço cuja eficácia depende das linhas de comunicação que ficam sobrecarregadas com inúmeros contactos de gente de boa vontade, que quer ajudar.
Somos assim, um povo de coração aberto. Mas é preciso sermos informados da diferença entre sermos generosos e a de sermos usados.
Os Serviços de Transplante e os Gabinetes de
Coordenação de Colheita de Órgãos e Transplantação são as instituições que tratam destas questões tão delicadas e estão aptos para o fazer bem, pelos canais próprios, sem haver necessidade de apelos a outras vias.
Precisam de estar totalmente libertos de outras preocupações, que não sejam a procura dirigida para os órgãos necessários em situações urgentes e emergentes. E se este
tipo de apelo fosse útil e razoável, seriam as próprias instituições a lançá-los.
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