sábado, 14 de novembro de 2009

(...) relembro o poder político que apesar de ser sempre possível optimizar cada vez mais a recolha de órgãos em dadores-cadáver, ainda assim, o número de transplantes é e será sempre muito reduzido, comparativamente às necessidades reais do país. Por essa razão temos de encontrar outras alternativas eticamente aceitáveis, juridicamente correctas e humanamente desejáveis. Só com o recurso a leis equilibradas, modernas e pragmáticas será possível revolucionar toda a politica de transplantação em Portugal. Quando estávamos no meio do nosso drama, uma das coisas que mais nos sensibilizou foi a quantidade de pessoas que se ofereceram para serem dadoras. Algumas, não as conhecíamos… eram amigos anónimos dos amigos, que iam conhecendo a história e sentiam-se impelidos a dar esse passo! Nós os pais tínhamos a obrigação de ser dadores, mas estes não, estes ofereciam-se pelo mais puro sentimento de generosidade humana. A todos eles o nosso muito obrigado! Mas é disto que a nossa sociedade precisa, de atitudes nobres, generosas, corajosas, demonstrativas do mais puro amor e sã fraternidade entre os seres humanos. Houve realmente uma “onda de amor” que nos tocou a alma! Rezaram-se missas, pediram muito por nós, acarinharam-nos sem nada nos dizerem, pessoas que nos eram próximas e pessoas que não nos conheciam. Na verdade, desde a ciência à fé, todos estiveram atentos, todos estiveram em campo, unidos por um único elo, o nosso filho!
O mistério da Fé é tudo isto e também a Lígia se sentiu tocada por ele e por essa razão quis ir a Fátima a pé. Quis passar por essa provação e honrar as preces dos momentos difíceis! Em 2007, com um grupo de amigos entre os quais a Isabel que também fez questão de ir e pela mesma razão, saíram de Ovar rumo ao santuário. A Lígia encontrou nessa provação algo que a levou até Deus e já no Santuário, quando mostrou o nosso filho à cruz da basílica que contempla todo o espaço envolvente, não conseguiu articular nenhuma palavra. Os olhos rasos de lágrimas diziam tudo! Ela sentia-se efectivamente feliz, agradecida e confiante. O nosso futuro será um pouco isto, acreditar na nossa força e ter fé, muita fé! Somos a estrela que guia os nossos filhos, que protege e que está presente. A nossa vida tem este significado, temos o nosso papel e temos de o cumprir o melhor que sabemos.

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