quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Epílogo

Fez 5 anos no dia 26/07/2009 que o Vitinho foi transplantado. Só agora resolvi concluir este livro que já tinha iniciado em tempos, porque só agora consigo ter o desprendimento emocional para o fazer. Não é fácil reviver tudo o que passámos, não é fácil mostrar os nossos sentimentos, as nossas lágrimas, enfim este nosso mundo! A todos os que estão ou venham a estar numa situação equivalente, envio uma mensagem de muita esperança. O pensamento positivo é o nosso principal aliado e parafraseando o poeta “vale sempre a pena se a alma não é pequena”! Por tudo o que passámos digo que vale sempre a pena lutar por uma vida, como o refere o título deste pequeno livro, é “lutar até viver”! Lutar, lutar desenfreadamente, por vezes desesperadamente, mas lutar! Nunca, mas mesmo nunca poderemos desistir, porque só acreditando que podemos vencer, é que venceremos! Tudo o que somos, tudo o que fomos e tudo o que valemos, são o melhor de nós e que estamos sempre a transmitir aos nossos filhos. Muita vezes esquecemo-nos do mais importante! Estive há pouco tempo na India e salta à vista que um qualquer dos nossos pobres, daqueles pobres segundo os indicadores da União Europeia, são imensamente ricos, se comparados com aqueles miseráveis que vivem nas ruas de Nova Dehli, de Agra, de

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Jaipur, de Mumbai, etc. Tudo é relativo, tudo é chocante e só nos apercebemos das futilidades que nos esmagam de stress no dia a dia, quando somos brutalmente interceptados pela vida, num qualquer corredor de um hospital. Um dia li um depoimento de uma transplantada jovem, que dizia mais ou menos isto, “olá, sou feliz, ainda bem que sou transplantada porque nasci para uma nova vida”. Inicialmente pensei que ela estava a referir-se ao facto de ter renascido no “sentido figurado”, isto é, o novo fígado seria a sua segunda oportunidade, daí o “seu renascimento”. Mas não, o que ela pretendia dizer, é que só agora percebia que a sua vida era preciosa e tudo tinha um novo significado! O que mudou foi a sua forma de encarar o “dia a dia”, a sua vida! A minha experiência é a de pai, não de um transplantado, mas ainda assim, percebo que é verdade que tudo passa a ter um valor diferente. Quem passa por uma experiência como a nossa sabe qual é o valor relativo das coisas. Se nos faltar o dinheiro, se nos faltarem os bens materiais, temo-nos pelo menos a nós próprios, temos os nossos sentimentos, os nossos amores, os nossos tesouros, que são as nossas vidas e as vidas dos nossos filhos. Unidos, podemos viver de muito pouco e então, se olharmos para os pobres verdadeiramente pobres dos arredores de Mumbai, ou daquelas aldeolas fora dos roteiros turisticos que descem o Nilo entre Assuão e Luxor no Egipto, então percebemos, que o nosso patamar mais baixo, é inalcançável para toda essa pobre gente. Temos realmente de nos dar por muito felizes por termos nascido em Portugal. Por tudo isto digo e repito que qualquer buraco orçamental é bem-vindo se a sua razão for a nossa saúde! As nossas vidas não têm preço, logo temos de gastar para as salvar tudo o que temos e tudo o que não temos! Tudo é correcto se o dinheiro for bem gasto e se as gestões hospitalares forem

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competentes! Todas as localidades deveriam ter urgências, todas deveriam ter serviços médicos condignos, até na mais recôndita aldeia deveriam haver formas de acudir imediatamente às populações. Uma vida não tem preço, então gaste-se o que se gastar, é irrelevante! Ovar deveria ter uma urgência eficaz, mas também Válega, Esmoriz, Arada, etc, etc. Se fosse primeiro ministro fazia precisamente o inverso do que até aqui se tem feito, abria urgências e hospitais por tudo o que é lado, pois a vida humana é sagrada e ninguém, mesmo ninguém pode morrer num centro de saúde, só porque fecharam as urgências do hospital e guardaram o desfibrilhador num qualquer canto!

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