sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O preço da vida

Quanto vale uma vida humana?

O Prof. Ernani Lopes que conheci na U. Católica, como todos sabem, morreu recentemente. Era um prestigiado economista e nunca desistiu de lutar pela vida. Muito pouco tempo antes de morrer ainda aparecia na TV, visivelmente enfraquecido e o mesmo se diga da Dra. Maria José Nogueira Pinto, mais conhecida pelas suas qualidades politicas.

Se Deus permitisse, gostaria de lhes perguntar o seguinte, quanto vale uma vida humana? Qual o preço? Se houvesse um medicamento milagroso que custasse vários milhões e que os pudesse salvar, seria legitimo defender a sua compra pelo Estado Português?!

Seria chocante que, se existisse o tal medicamento, a compra do mesmo fosse vedada por razões economicistas!! O Prof. Ernani Lopes conhecido pelos seus rigor e competência, certamente que perceberia que neste caso concreto, invocar-se razões económicas para impedir a compra do medicamento, seria um absurdo e moralmente inaceitável! A Dra. Maria José Nogueira Pinto defenderia esta causa com todo o fervor e nunca cederia às pressões ditas económicas!!

Quem está perto da morte sabe o que quero dizer e por isso escrevi no meu livro:

“Quem passa por uma experiência como a nossa sabe qual é o valor relativo das coisas. Se nos faltar o dinheiro, se nos faltarem os bens materiais, temo-nos pelo menos a nós próprios, temos os nossos sentimentos, os nossos amores, os nossos tesouros, que são as nossas vidas e as vidas dos nossos filhos. Unidos, podemos viver de muito pouco e então, se olharmos para os pobres verdadeiramente pobres dos arredores de Mumbai, ou daquelas aldeolas fora dos roteiros turísticos que descem o Nilo entre Assuão e Luxor no Egipto, então percebemos, que o nosso patamar mais baixo, é inalcançável para toda essa pobre gente. Temos realmente de nos dar por muito felizes por termos nascido em Portugal.
Por tudo isto digo e repito que qualquer buraco orçamental é bem-vindo se a sua razão for a nossa saúde! As nossas vidas não têm preço, logo temos de gastar para as salvar tudo o que temos e tudo o que não temos! Tudo é correcto se o dinheiro for bem gasto e se as gestões hospitalares forem competentes!”

Contudo hoje fiquei em estado de choque porque ouvi atentamente o Sr. Ministro e quando chegou a parte da redução dos incentivos aos transplantes ele justificou desta forma, é que os incentivos existiam para fomentar os transplantes e dado Portugal ter atingido um lugar de topo, já não é necessário incentivar mais!!? (não foram estas as palavras, mas foi esta a ideia transmitida)
Será que percebi bem? Então porque somos dos melhores a colher órgãos e dos melhores a transplantar, já não é preciso incentivar mais? Mas estamos a falar de quê, da produção de batatas?

Vamos ver em que é que isto dá, mas hoje fiquei a saber que uma vida humana vale muito menos do que eu pensava! Passou a ser lícito contrabalançar entre um beneficio para a saúde de alguém e um beneficio para a saúde das finanças!

Na altura em que o Alex foi transplantado, era lícito mover montanhas para se conseguir fazer um transplante e dessa forma salvar uma vida, podia-se mandar vir um médico que estivesse em férias num país estrangeiro, podia-se requisitar um avião para levar uma criança a Bruxelas, podia-se gastar ‘mundos e fundos’ para se ir buscar um órgão á Madeira e aos Açores…

Parece que a partir de agora será mais lógico … deixar morrer a criança!!
Razões economicistas, dizem eles!!!

Que a Dra. Nogueira Pinto e o Prof. Ernani Lopes lá em cima, velem por nós, que contrariamente ao que digo no livro, estou a começar a perder o orgulho de ser português!

Onde pára a obra do Prof. Linhares Furtado?

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