Por Graça Barbosa Ribeiro
Depois do alerta de pais de doentes e de médicos especialistas, a administração do CHC volta a disponibilizar o medicamento de marca
A administração do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC) assegurou ontem, através do gabinete de imprensa, que as crianças que receberam transplantes de fígado voltam, a partir de hoje, a ter acesso ao imunossupressor de marca na farmácia do Hospital Pediátrico. A informação, fornecida ao PÚBLICO, não foi acompanhada de qualquer explicação para o recuo, que se segue à denúncia feita por médicos que avisaram que substituição do medicamento pelo genérico estava a colocar em risco a saúde das crianças.
Em causa não estava apenas a circunstância de o genérico nunca ter sido testado em crianças ou em transplantados. Mas também o facto de aquele tipo de medicamento (genérico ou de marca) ter uma margem terapêutica muito estreita, ou seja, de a diferença entre a dose eficaz e a tóxica ser curta e diferente de pessoa para pessoa. O próprio Resumo das Características do Medicamento - que segundo o Infarmed "representa as condições e especificações em que o medicamento foi aprovado" - define, em relação ao medicamento original e ao genérico, os cuidados a ter: "Somente médicos com experiência na terapêutica imunossupressora e no controlo de doentes transplantados devem prescrever, bem como fazer alterações na terapêutica imunossupressora prescrita inicialmente (...). Alterações na formulação ou no regime posológico só podem ser feitas sob a apertada supervisão de um especialista em transplantação".
No CHC a decisão de substituir um medicamento pelo genérico foi tomada sem o conhecimento dos médicos que seguem as crianças, primeiro, e contra o seu parecer, depois. No início da semana, Margarida Castelão, dirigente da Associação Nacional das Crianças e Jovens Transplantados ou com Doenças Hepáticas, revelou que ouvira o director clínico do CHC afirmar que a decisão de substituir os medicamentos se devera à necessidade de cortar 15 por cento das despesas no orçamento da farmácia. E o ex-coordenador do Programa Pediátrico de Transplantação Hepática, Emanuel Furtado, considerou a troca "perigosa" e de "alto risco". Nessa altura, já a Ordem dos Médicos investigava as circunstâncias que rodearam a substituição do medicamento.
Esta questão terá sido resolvida antes da reunião que ontem juntou em Lisboa a ministra da Saúde, representantes dos dois centros hospitalares de Coimbra e Emanuel Furtado, o único cirurgião que faz transplantes hepáticos pediátricos em Portugal. O objectivo foi promover o início de conversações entre as partes, no sentido de chegarem a um acordo para a criação de condições para retomar aquele tipo de intervenção, que actualmente só é feito em situações de emergência.
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