sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Emanuel Furtado pediu para sair dos HUC - Artigo de hoje do Diário de Coimbra

Escrito por Andrea Trindade
CIRURGIÃO DEVERÁ IR PARA O IPO DE COIMBRA

Emanuel Furtado pediu
para sair dos HUC

Cirurgião é o responsável pelo programa nacional de transplantação hepática pediátrica, que pode estar em risco
O cirurgião Emanuel Furtado, coordenador do programa de transplantação hepática pediátrica e único médico com conhecimento e experiência para realizar transplantes de fígado em crianças, pediu para sair dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC). A Associação Nacional das Crianças e Jovens Transplantados ou com Doenças Hepáticas – Hepaturix teme que acabem os transplantes hepáticos pediátricos em Coimbra e que as crianças tenham de ser encaminhadas para centros estrangeiros, correndo o risco de não obter resposta em tempo útil.

Fonte do gabinete de comunicação dos HUC confirmou ontem ao Diário de Coimbra que «o Conselho de Administração tomou conhecimento do pedido de exoneração do professor Emanuel Furtado», profissional daquele hospital. O pedido terá chegado já este ano, mas há algum tempo que se fala na saída do médico, admitindo-se, mais recentemente, a sua ida para o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra, onde deverá chefiar um serviço.
Recorde-se que Emanuel Furtado foi designado há quatro anos coordenador dos transplantes hepáticos pediátricos mas não dirigia nenhum serviço nos HUC, trabalhando no serviço de Cirurgia I, sob a direcção de Fernando José Oliveira.
«Se for verdade é o atestado de óbito dos transplantes hepáticos pediátricos e toda uma equipa e uma lógica de funcionamento que fica em causa. É muito triste, dramático», refere Vítor Raimundo Martins, presidente da Assembleia-geral da Hepaturix e pai de uma criança transplantada.
O responsável refere que, em situações agudas, «o transplante tem de ser feito num curto intervalo de tempo, não se compadece com envios para centros estrangeiros e com espera por órgãos de dadores compatíveis noutro país».
«Saindo Emanuel Furtado e ficando outro cirurgião que não possua os mesmos conhecimentos e alguma experiência, estaremos a regredir num processo que nos trouxe até um centro de grande qualidade, com taxas de sucesso comparáveis às melhores internacionais», acrescenta Catarina Aguiar, vice-presidente da direcção da Hepaturix, ela própria uma jovem transplantada em Coimbra.

Uma equipa “admirável”
Vítor Martins e todos os outros pais e doentes são unânimes em considerar a equipa liderada por Emanuel Furtado - constituída por profissionais dos HUC e do Hospital Pediátrico de Coimbra (HPC) - «admirável em todos os níveis». «Custa-me, por isso, ainda mais ver a transplantação pediátrica cair assim», desabafa, lembrando a «escola criada com Linhares Furtado (pioneiro em Portugal)» e o enorme conhecimento reunido neste centro. Sobre o futuro dos transplantes há ainda pouco a dizer. Os HUC garantem apenas que «saberão encontrar formas de assumir as suas responsabilidades no cumprimento da sua missão como hospital de adultos». O que dá uma clara indicação de que o problema deverá ser resolvido do lado do Hospital Pediátrico e indo ao encontro da já prometida transferência dos transplantes hepáticos pediátricos para o novo hospital.
Através do gabinete de imprensa, os HUC fazem ainda saber que «estão, como sempre estiveram, abertos à colaboração nesta área, disponibilizando as suas equipas» ao Pediátrico e a outros hospitais da cidade. Uma dúvida que, aliás, nem se coloca quando todos as unidades fazem já parte do recém-criado Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Cenário já era anunciado
Há anos que a Hepaturix alerta para a fragilidade de ter apenas um cirurgião especializado nesta área, reclamando o investimento na formação de mais cirurgiões hepáticos infantis. No início de 2007, os pais e familiares de crianças transplantadas viveram momentos de grande angústia, precisamente porque Emanuel Furtado esteve indisponível para fazer o serviço, levando à suspensão temporária dos transplantes (com pelo menos uma criança a ser encaminhada para o Hospital de La Paz, em Madrid).
Os HUC, hospital a que pertence o cirurgião e onde são realizados os transplantes, e Hospital Pediátrico, que recebe e acompanha as crianças antes e depois do transplante, deram, na altura, o problema por resolvido. Emanuel Furtado seria nomeado coordenador do programa de transplantação hepática pediátrica – nacional, porque Coimbra tem o único centro que faz este tipo de intervenção – e os transplantes foram retomados. O que é certo é que se continuou a depender de um único cirurgião, até hoje, «sem que fosse feito um investimento na formação de novos cirurgiões», repara Vítor Martins. O Diário de Coimbra tentou, sem sucesso, falar com o cirurgião Emanuel Furtado.

17.o aniversário da transplantação
hepática pediátrica assinalado amanhã
A transplantação de fígado em crianças foi iniciada em Portugal a 15 de Janeiro de 1994 – fará amanhã 17 anos – por Linhares Furtado, pai do até aqui responsável pelo programa de transplantação hepática pediátrica. A intervenção é complexa e a técnica difere da realizada em adultos, uma vez que os órgãos disponíveis para transplante são maioritariamente de dadores adultos e a equipa de Emanuel Furtado tem de proceder à sua redução ou, em alguns casos, à divisão do órgão para responder a mais de um receptor. Desde 2001, realiza-se também em Coimbra o transplante hepático com recurso a dador vivo, sendo normalmente o pai ou a mãe a doar parte do fígado à criança.

http://www.diariocoimbra.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=10799&Itemid=135

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